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Tempo passageiro

O presente, acabou. Findou-se, antes que eu pudesse agarrá-lo. Passou lotado, cheio de carne humana. Impenetrável. Claudicante. Várias vezes, impenetrável. Tentei o passado, com suas lembranças, com seu relógio atrasado. Teias e sombras, lançadas a esmo, mas com dores certas. Estacionado. Juntando poeira num ramal esquecido. Ah, o futuro ! Estende-se por ambos os lados da vida. Pode ser fazenda, pode ser jardim. O futuro despromete, desconstrói. Mas nada garante, além do fato de que passará.
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Passei no Vestibular (desculpe, Martinho)

  Um desafio dos alunos me levou ao vestibular de 22. Eles diziam que eu não passaria no concurso, que eu estava velho e só sabia ensinar física, mas as outras matérias me seriam difíceis. Os pilantrinhas, no fundo, sabiam que eu não resistiria à provocação. Inscrevi-me no vestibular da Universidade do Estado. Na hora da prova, chutei física – para não dar margem a suspeita de covardia. Claro, algumas respostas que pareciam muito óbvias eu não perdoei. Mas de modo geral chutei as tantas questões. Matemática e Inglês, também meio que no automático. Química nem pensar. Dediquei-me com especial crueldade às questões em que eles apostariam minhas fraquezas: Português/Literatura, Geografia, História. Pois, para culminar meu ato de desafio aceito, escolhi a carreia de Literatura Português-Inglês. Passei bem colocado, para revolta do corpo discente do cursinho, que agora redobra esforços para me alcançar na faculdade e fazer suas troças pessoalmente. Sete matérias num primeiro período. Nem

Um Solzinho em Agosto

  Rio de Janeiro, 26º C. À saída do metrô carioca, o sol me saúda, morno e benéfico. Dá vontade de agradecer por isso; por que não ? As pessoas são manequins, fora os notáveis do dia:  miseráveis pedintes e livreiros de sebo. Lá na ponta do Terminal um casal vende uma das melhores tapiocas da cidade. É para lá que vou,  lépido. Por ali transitam as belezas do mundo !  Procuro meu amigo Sato, sempre posicionado frente à parede azul e branca, como se sua imagem inconfundível tivesse sido impressa pela luz de um sol atômico. Ele ainda não chegou; acerto o meu relógio por ele: 12:45. Mas ainda não. Antes, o queijo, o orégano, a cebola, o ovo. Menos de dois dólares. Bom negócio afinal ! Eis o Sato, indefectível, com seu suco na mão.  Improváveis laranja, limão, gengibre e mel. Noutro dia discutíamos a morte de um dos bateristas mais comportados do mundo: Charlie Watts. 2021, 80 anos. Os outros Stones detonando e Charlie morre primeiro: Vai entender !  - Dá um tempo ! - disse Sato. Isso não

Technographers

  A renewed profession is generating insights on technology and markets, meaning life and death to companies – depending on how they receive the specialist´s advices. Those professionals are the tech etnographers - or technographers for short. Tricia Wang now works for IBM. When she was working with Nokia, she told to the top hats that their vision on the future of mobile wouldn´t prevail. Tricia spent months in cybercafés, learning from the users themselves – their spectations and needs. Nokia didn´t buy Wang´s ideas - nor customers bought Nokias´s phones. The company lost millions of dollars in opportunities and never recovered this market share. Paul Durant is a analyst who spent years telling Akira Company to stop using “free” processual software and to make it´s own fork – it´s own version – avoiding communication bootlenecks between makers and users. It was in vain. Now, the more analysts work, the less satisfied the customers are. Conversely, people know the story of Steve

Duolingo do Futuro ?

  Primeiro os aplicativos educacionais baseados em IA aplicavam cursos pela internet comparando objetivos com resultados e descobriram que, introduzindo erros nos artefatos de ensino, provocaram reações que melhoraram as performances futuras dos alunos. Depois alguém teve a ideia de produzir kits que mediam as reações elétricas e químicas dos estudantes. Mas, em vez das ridículas toucas eletrosensíveis, o Duolingo financiou e produziu uma pulseira sensora que se comunicava com o aplicativo e dali a sua rede. A revolução que se seguiu abriu o caminho para os sensores cerebrais. Usar a fina touca, - disputada mundialmente e enviada via Internet por um bom preço - durante o aprendizado era o de menos, perto dos resultados. Logo depois veio o dispositivo auricular, muito mais confortável. Ele fazia um mapa completo do cérebro do aluno para os servidores do Duolingo. A missão da empresa era: “Ensino personalizado, tornar o aprendizado divertido, ser universalmente acessível”. Por omissão, a